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quinta-feira, 6 de março de 2014

» Bancos europeus vão passar por pente-fino do BCE

Até novembro, balanços de 128 bancos da zona do euro serão examinados detalhadamente e alguns deles poderão ser liquidados

Martin Hesse, Christoph Pauly e Anne Seith, do Der Spiegel - O Estado de S.Paulo

Anos de crise na indústria bancária europeia ensinaram algumas lições a Martin Blessing sobre como lidar com a adversidade. O diretor do Commerzbank brincou recentemente com seus amigos mais íntimos falando em quantas vezes ele e o seu banco foram dados como mortos. Mas ambos continuam no mercado.

Ainda assim, Blessing tem consciência do fato de que o teste definitivo ainda está por vir este ano - sob a forma de avaliações do balanço patrimonial realizadas pelo BCE. Numa iniciativa sem precedentes, o BCE vai empregar milhares de auditores e reguladores para examinar os registros de 128 bancos na zona do euro. O projeto deve ser concluído antes do início de novembro, quando o BCE vai assumir a supervisão das maiores instituições financeiras da zona de moeda comum.

Primeiro, será feita uma análise detalhada dos balanços patrimoniais dos bancos. Então, sua resiliência diante de possíveis condições de mercado adversas será testada. Na conclusão do exercício, o BCE pode exigir que algumas instituições financeiras façam melhorias, ou até recomendar que determinados bancos sejam liquidados. "Em toda a minha carreira, nunca vi nada parecido" com os testes, diz um diretor de banco de longa carreira.

Ainda que alguns bancos possam sofrer, o experimento pode resultar no sinal positivo que o mundo financeiro europeu aguarda há anos - um novo início após sete tortuosos anos de crise durante os quais centenas de bilhões de euros em ajuda estatal inundaram o setor.

De fato, o BCE ainda oferece assistência sob a forma de crédito emergencial porque os bancos não confiam uns nos outros. Se os bancos em dificuldade fossem eliminados e o restante recebesse um certificado de saúde financeira, a confiança seria restaurada, eliminando a dependência em relação ao BCE.

Mas o projeto também é arriscado. Se o BCE se mostrar rigoroso demais, o resultado pode ser a desestabilização de um setor bancário europeu que acaba de começar a apresentar os primeiros sinais de recuperação. Mas, se não for rigoroso o bastante, ou se permitir a influência de interesses nacionais, a credibilidade do BCE pode ser questionada. Assim sendo, os testes de estresse vão oferecer o primeiro indício da capacidade do BCE de monitorar adequadamente os bancos europeus.

"Sabemos que temos uma oportunidade única de estabelecer nossa credibilidade e reputação", disse Danièle Nouy, presidente do comitê de supervisão bancária do Banco Central Europeu, ao Financial Times.

Bancos sem futuro. Embora a francesa de 63 anos seja tão miúda a ponto de quase desaparecer atrás do púlpito quando faz apresentações, sua expressão austera transmite uma aura implacável. Ela tem consciência de como é fácil o BCE constranger a si mesmo em seu novo papel de super-regulador.

Três anos atrás, a primeira agência europeia de monitoramento, a Autoridade Bancária Europeia (EBA), deu início a um amplo teste de estresse, que fracassou completamente. A equipe de 50 funcionários de Londres, à qual um regulador se refere como "clube amador de jardinagem", se mostrou completamente sobrecarregada pela tarefa. A credibilidade da agência desapareceu rapidamente quando alguns bancos aprovados no teste enfrentaram dificuldades quase imediatamente após sua realização.

Assim, Danièle está deixando claro desde o início que trabalha com rigor. "Temos de aceitar que não há futuro para certos bancos", disse ela ao Financial Times. "Temos de permitir que alguns bancos desapareçam de maneira organizada."

O setor inteiro está agora se perguntando quantos e quais bancos podem ser considerados fracos. As estimativas em relação à situação das instituições financeiras europeias variam muito. Uma dupla de professores de Berlim e Nova York calculou recentemente que o capital total de amortecimento dos 109 bancos da zona do euro é pequeno demais, dizendo serem necessários pelo menos outros 770 bilhões (cerca de US$ 1 trilhão). Um estudo semelhante realizado pela OCDE descobriu que os 60 maiores bancos da zona do euro carecem de apenas 84 bilhões.

'Supostamente, o BCE pretende quebrar 30 bancos para estabelecer sua credibilidade", diz Dick Becker, analista da Kepler Cheuvreux em Frankfurt. "Se isso for verdade, as coisas podem ficar feias também para as instituições alemãs, como o Commerzbank, HSH Nordbank ou Nord/LB." O banco americano de investimentos Keefe, Bruyette & Woods (KBW) acredita que 27 bancos serão reprovados, mas as instituições alemãs serão duramente atingidas. O KBW prevê que oito bancos alemães sejam reprovados, número quase igual à soma de instituições italianas e espanholas reprovadas.

Os auditores que participam do teste não revelam detalhes. As especificações do BCE ainda não foram concluídas, diz Michael Gättgens, sócio da Deloitte. "Assim, é muito difícil avaliar os possíveis efeitos para os bancos alemães."

Christian Noyer, diretor do Banque de France, também se mostra sereno. "Não espero que um grande número de bancos sejam reprovados no teste, nem numa grande escassez de capital", diz ele. "Mas pode haver um número de instituições com problemas que ainda precisam ser resolvidos." (Tradução de Augusto Calil)

Fonte: Estadão.com.br
Link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bancos-europeus-vao-passar-por-pente-fino-do-bce,1137704,0.htm

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